Quando estávamos
no caminho de Brasília para a posse do ex-presidente, sentíamos aquele senso de
pertencimento que havia nas letras mortas do nosso livro de história. Não nos
sentíamos Tiradentes nem Zumbi dos Palmares nem Caetano Veloso. Éramos apenas coadjuvantes de
algo que julgávamos maior.
Fomos uma
geração otimista, milenarista aliás, que trocou toda sua potência de vida por
uma promessa. Pintar a cara significava para nós apenas uma lembrança vaga de
infância. Uma geração perdida porque acreditou demasiadamente, porque tinha
orgulho de dizer que era brasileiro, porque o brasileiro nunca desistiria da
promessa feita.
A tragédia para essa geração foi não compreender
uma questão semântica: uma promessa não cumprida é ainda uma promessa a
cumprir. O Lula falava em não sei quantos milhões de pessoas saindo da extrema
pobreza, a Dilma, em não sei quantos milhões de empregos criados... qualquer
pronunciamento oficial servia apenas para arrolar a promessa. E lá se foram
aquele sentimento de pertencimento, a nossa juventude e tudo mais. Como no mito
de Pandora, restou-nos a esperança na caixinha.
A nova geração
não tem esperança, não possui unidade ideológica e dizem até que não tem
propostas bem definidas. Duvido que tenham lido a PEC37. Duvido que compreendam
as implicações éticas do Estatuto do Nascituro. Mas... que digo eu? quem sou eu
para duvidar de uma geração que suspeita de tudo? Inveja, claro, inveja de uma
geração que troca aquele nosso sentimento marxista de pertencimento histórico por um ceticismo esplendoroso.
O cético não
espera nada. Antes do fim, ele reinicia sua caminhada, de um link a outro,
sucessivamente.
O cético não
aprende nem ensina nada a ninguém. Ele se livra dos professores e das aulas
enfadonhas, sobre PECs e Estatutos, pesquisando no Google.
O cético é
também um ironista. Ele curte e compartilha sua vida apenas por curtir e
compartilhar, sem se comprometer com a verdade de suas postagens.
O cético não
tem propostas. Ele tem um medo terrível de errar o caminho. Antes de sair de
casa, ele confere no Google Maps.
O cético não se
interessa por problemas semânticos. Para nós, tudo quanto existisse poderia ser
dito. Mas o cético não é um nominalista. Fôssemos nós, logo lhe metíamos um
nome. Chamaríamos #MovimentoHashtag, “Revolta dos Vinte Centavos” ou somente
“Revolta dos Vinténs”.
O cético
prefere os problemas lógicos. Se há vândalos no movimento, então eles não
pertencem ao movimento. Se alguém apanhou, caiu, foi atropelado e morreu, a
culpa não foi de quem bateu, empurrou atropelou e matou.
Que culpa? O
cético não sente culpa, absolutamente. Hoje ele desabafa no Facebook e apaga a mensagem em seguida.