21 junho 2013

Uma geração perdida e outra cética

Quando estávamos no caminho de Brasília para a posse do ex-presidente, sentíamos aquele senso de pertencimento que havia nas letras mortas do nosso livro de história. Não nos sentíamos Tiradentes nem Zumbi dos Palmares nem Caetano Veloso. Éramos apenas coadjuvantes de algo que julgávamos maior.
Fomos uma geração otimista, milenarista aliás, que trocou toda sua potência de vida por uma promessa. Pintar a cara significava para nós apenas uma lembrança vaga de infância. Uma geração perdida porque acreditou demasiadamente, porque tinha orgulho de dizer que era brasileiro, porque o brasileiro nunca desistiria da promessa feita.
 A tragédia para essa geração foi não compreender uma questão semântica: uma promessa não cumprida é ainda uma promessa a cumprir. O Lula falava em não sei quantos milhões de pessoas saindo da extrema pobreza, a Dilma, em não sei quantos milhões de empregos criados... qualquer pronunciamento oficial servia apenas para arrolar a promessa. E lá se foram aquele sentimento de pertencimento, a nossa juventude e tudo mais. Como no mito de Pandora, restou-nos a esperança na caixinha.
A nova geração não tem esperança, não possui unidade ideológica e dizem até que não tem propostas bem definidas. Duvido que tenham lido a PEC37. Duvido que compreendam as implicações éticas do Estatuto do Nascituro. Mas... que digo eu? quem sou eu para duvidar de uma geração que suspeita de tudo? Inveja, claro, inveja de uma geração que troca aquele nosso sentimento marxista de pertencimento histórico por um ceticismo esplendoroso.
O cético não espera nada. Antes do fim, ele reinicia sua caminhada, de um link a outro, sucessivamente.
O cético não aprende nem ensina nada a ninguém. Ele se livra dos professores e das aulas enfadonhas, sobre PECs e Estatutos, pesquisando no Google.
O cético é também um ironista. Ele curte e compartilha sua vida apenas por curtir e compartilhar, sem se comprometer com a verdade de suas postagens.
O cético não tem propostas. Ele tem um medo terrível de errar o caminho. Antes de sair de casa, ele confere no Google Maps.
O cético não se interessa por problemas semânticos. Para nós, tudo quanto existisse poderia ser dito. Mas o cético não é um nominalista. Fôssemos nós, logo lhe metíamos um nome. Chamaríamos #MovimentoHashtag, “Revolta dos Vinte Centavos” ou somente “Revolta dos Vinténs”.
O cético prefere os problemas lógicos. Se há vândalos no movimento, então eles não pertencem ao movimento. Se alguém apanhou, caiu, foi atropelado e morreu, a culpa não foi de quem bateu, empurrou atropelou e matou.
Que culpa? O cético não sente culpa, absolutamente. Hoje ele desabafa no Facebook e apaga a mensagem em seguida.